"(...) com a fotografia não nos é possível continuar a pensar a imagem separada do acto que a faz ser. A fotografia não é apenas uma imagem (o produto de uma técnica e de uma acção, o papel de um fazer e de um saber fazer, uma figura de papel que se olha simplesmente na sua clausura de objecto acabado), é também, primeiramente, um verdadeiro acto icónico, uma imagem, se quisermos, mas em trabalho, algo que não é concebível fora das suas circunstâncias, fora do jogo que a anima, literalmente, sem a sua prova. Algo, portanto, que é, ao mesmo tempo e consubstancialmente, uma imagem-acto, supondo que este acto não se limita, trivialmente, ao gesto único da produção propriamente dita da imagem (o gesto de a tirar), mas que inclui também o acto da sua recepção e da sua contemplação. A fotografia, em suma, inseparável de toda a sua enunciação, como experiência de imagem, como objecto totalmente pragmático. Vê-se, assim, como este medium mecânico, óptico-químico, pretensamente objectivo, do qual se disse, no plano filosófico, que se realizava na ausência do homem, implica de facto ontologicamente a questão do sujeito, especialmente so sujeito em processo".
IN O acto fotográfico, de Philippe Dubois.
Foto por Angela Barroso